segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Achegas para a impugnação da canonização do S. Belmiro...

Más línguas!...

Agora que tudo concorria para a canonização de S. Belmiro, já em fase de beatificação, incensado como o maior empresário que a Tugalândia jamais conheceu, um "self made man", um homem que subiu na vida a pulso, com um rasgo e visão inigualáveis, gestor eficaz, trabalhador incansável, que se levantava às 5h da manhã para trabalhar (bem, descontando a horita do ginásio matinal), enfim, com tantas qualidades que tudo apontava para uma subida aos altares mais rápida do que os pastorinhos de Fátima...

Eis então senão quando, e vêm agora para aqui uns desmancha-prazeres a lixar isto tudo - senão vejam:


«Ontem, no telejornal, esperei que a RTP desse um cheirinho sobre o "salto" de Belmiro de técnico-ativista para acionista rico. 
Nada, nem pó, nem sequer uma referência ao (aos?) processos que lhe moveu a viúva do banqueiro Pinto Magalhães, etc, etc, etc.
Deixo aqui um texto de um antigo deputado e bancário, para lerem com espírito aberto e buscarem mais para aferir, confirmar, complementar.

"Quando, em 14 de Março de 1975, o governo de Vasco Gonçalves nacionalizou a banca com o apoio de todos os partidos que nele participavam (PS, PPD e PCP), todo o património dos bancos passou a propriedade pública. O Banco Pinto de Magalhães (BPM) detinha a SONAE, a única produtora de termolaminados, material muito usado na indústria de móveis e como revestimento na construção civil. Dada a sua posição monopolista, a SONAE constituía a verdadeira tesouraria do BPM, pois as encomendas eram pagas a pronto e, por vezes, entregues 60, 90 e até 180 dias depois. Belmiro de Azevedo trabalhava lá como agente técnico (agora engenheiro técnico) e, nessa altura, vogava nas águas da UDP. Em plenário, pôs os trabalhadores em greve com a reclamação de a propriedade da empresa reverter a favor destes. A União dos Sindicatos do Porto e a Comissão Sindical do BPM (ainda não havia CTs na banca) procuraram intervir junto dos trabalhadores alertando-os para a situação política delicada e para a necessidade de se garantir o fornecimento dos termolaminados às actividades produtoras. Eram recebidas por Belmiro que se intitulava “chefe da comissão de trabalhadores”, mas a greve só parou mais de uma semana depois quando o governo tomou a decisão de distribuir as acções da SONAE aos trabalhadores proporcionalmente à antiguidade de cada um.
É fácil imaginar o panorama. A bolsa estava encerrada e o pessoal da SONAE detinha uns papéis que, de tão feios, não serviam sequer para forrar as paredes de casa… Meses depois, aparece um salvador na figura do chefe da CT que se dispõe a trocar por dinheiro aqueles horrorosos papéis.
Assim se torna Belmiro de Azevedo dono da SONAE. E leva a mesma técnica de tesouraria para a rede de supermercados Continente depois criada onde recebe a pronto e paga a 90, 120 e 180 dias…
Há meia dúzia de anos, no edifício da Alfândega do Porto, tive oportunidade de intervir num daqueles debates promovidos pelo Rui Rio com antigos primeiros-ministros e fiz este relato. Vasco Gonçalves não tinha ideia desta decisão do seu governo, mas não a refutou, claro. Com o salão pleno de gente e de jornalistas, nenhum órgão da comunicação social noticiou a minha intervenção.
Este relato foi-me feito por colegas do então BPM entre eles um membro da comissão sindical (Manuel Pires Duque) que por várias vezes se deslocou na altura à SONAE para falar aos trabalhadores. Enviei-o para os jornais e, salvo o já extinto “Tal & Qual”, nenhum o publicou… 
Gaspar Martins, bancário reformado, ex-deputado"»


segunda-feira, 13 de novembro de 2017

PanteãoGate - um coro de virgens púdicas actua agora na cripta central

A brincar a brincar, o Sr. Ferreira Fernandes, em artigo no DN (ver em baixo) pôs o dedo na Frida (que não Kalo). 

- Na verdade, na lógica capitalista, tudo é business! 

Os monumentos? são para se "fruir"... tudo tem de se fruir, carago!, sobretudo se é malta endinheirada, que quer ter uma... "experiência diferente"! - jantares de gala em sítios chiquérrimos? - isso já é banal para eles, gente que já experimentou de tudo, precisamente porque tem muita massa. 

O que era preciso assim algo diferente (para algo de bom, há muito que existe o "Ferraro Roché") - o que era preciso, agora, era mesmo algo... de arrepiar. Só faltou mesmo, para completar o número, uns "fantasmas" embrulhados em lençóis, a deambular entre os sepulcros, e umas gravações com uns gritos lancinantes e o ranger de umas funéreas tumbas.... 

E foi pena não ter sido pelo Halloween, senão punham-se umas carrancas de abóbora com velas dentro sobre os túmulos do Camões e afins (nesses não há problema, porque até estão vazios). - Desde que esta gente pague, e bem, porque não?? Já que o Estado respeitável e omnipresente (em desconstrução acelerada por parte desses mesmos devotos dos "empreendedorismos" e das "startups") está cada vez mais sem cheta, porque não aderir a estas brilhantes e "empreendedoras" soluções, dentro do espírito do "Estado mínimo", neoliberal, imaginativo, criativo, sensitivo, lucrativo? 

- Há muito que se transformam velhos mosteiros e castelos em pousadas e afins? Pior era se abrissem um cabaré no Panteão (se calhar era esse o caminho, se não houvesse este burburinho - até rima!). Estão muito indignados? Pois esperem só pelo novo "Instituto do Património, S.A." que aí vem... - se fôr ainda com a "geringonça", teremos uma versão soft; se fôr com uma nova coligação tipo PaF, então será melhor ainda!...

Ora tomem lá:

Do Panteão pobre a uma Startup supermilionária
Agora, o Panteão. Jantou-se sob a cúpula. Culpa deste governo. Tudo dentro dos regulamentos de 2014. Culpa do governo anterior... Conversetas! Ora as culpas são outras. 1) Janta-se nos monumentos por falta de dinheiro. E 2) Ao alugar claustros e salões nobres não sabemos transformar a pobreza num orgulho. Por exemplo, para os da Web Summit, no Panteão, dizer-lhes quem somos. Ah, querem jantar com as nossas falecidas glórias? Então, além do cheque, ofereçam a vossa atenção! Não temos cá o Bulhão Pato (o melhor deste é servido em amêijoas nas tascas da cidade), mas temos Aquilino, o da cripta ao lado, que em A Casa Grande de Romarigãescozinhava a truta de dez maneiras. Ao menu chamar-se-ia Cartilha Maternal(homenagem a outro hóspede, João de Deus) e seria só peixe. Para lhes dizer, nós é mar - ao jantar citar-se-ia mil vezes Sophia. E, já agora, ó campeões da imaginação, o Eusébio está cá a representar mais que ele: foi colega de Coluna, um negro que mandava numa equipa de brancos quando isso ainda não existia. Silêncio, anunciava-se Amália e ouvia-se Max a cantar a Rosinha dos Limões. "Mas ela não era uma fadista?!", diria um geek. Cala-te e ouve (e agora era Amália a cantar): o fado Marujo, igualzinho... Lição para os da Web Summit: as invenções entrelaçam-se. Tanta coisa temos para vos ensinar enquanto mastigam... Investíamos as receitas dos jantares numa startup milionária: o Museu dos Descobrimentos. E com este libertávamos da pobreza o Panteão

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

As famosas PPP... - o que é privado é que é bom!

Desde há muitos anos que se foi insinuando o velho princípio neoliberal segundo o qual:
- Sector Público = incompetentes, calaceiros que vivem à conta dos "nossos impostos";
- Sector Privado = eficiência, gente honrada que trabalha muito (e, coitadinhos, são sugados pelo Estado para pagar aos calões parasitas do sector público).

E eis então senão quando, pouco a pouco, ou muito a muito, começou o famoso PPEC (Processo de Privatizações Em Curso). Mas, à maneira tuga, as privatizações são muito sui generis, ou seja, nunca o são na totalidade, à maneira americana, em que o "empreendedor" (adoro este palavrão!) espreita o furo, e manda-se à vida por conta e risco. Por cá, isso raramente acontece. O "empreendedor" tuga, ainda antes de "empreender", já está a estudar o mecanismo de como há-de ir mamar à teta do sector público (do qual passa a vida a dizer mal), seja o Estado, sejam as autarquias, estas verdadeiras incubadoras de empresinhas-satélite.

Assim, quando se trata de certos serviços públicos de maior alcance (que deveriam ser responsabilidade do Estado), foram congeminadas as famosas PPP's (Parcerias Público-Privadas)... As mesmas que ajudaram a afundar a Tugalândia e conduziram à intervenção da "troika".

Querem um exemplo de uma destas famosas PPP (deveriam ser antes: p.q.p. os "privados")? Ora tomem lá:

 http://observador.pt/2017/10/26/siresp-recebeu-mais-4-ate-final-de-junho-e-nao-teve-penalidades/ (atenção: este pasquim on line é altamente insuspeito, pois é o órgão oficioso do neoliberalismo tuga, nado durante o reinado do passos-coelhismo).

- Bem, e sobre a eficiência e competência do tal de SIRESP, estamos conversados... - já agora, acresce dizer que o dito SIRESP foi criado durante o reinado "socrático" com o actual PM como ministro da AI, mas continuado durante o passos-coelhismo, que nisto de negócios o "centrão" entende-se bem, cada qual com os seus "expertos" de serviço...


domingo, 22 de outubro de 2017

Lobby da indústria farmacêutica, dos USA para o mundo...

É preciso avisar a malta:

Prémio Nobel da Medicina faz uma denúncia alarmante! Todos devemos conhecer!

O Prémio Nobel da Medicina Richard J. Roberts denuncia a forma como funcionam as grandes Farmacêuticas dentro do sistema capitalista, preferindo os benefícios económicos à Saúde, e detendo o progresso científico na cura de doenças, porque a cura não é tão rentável quanto a cronicidade.

Há poucos dias, foi revelado que as grandes empresas Farmacêuticas dos EUA gastam centenas de milhões de dólares por ano em pagamentos a médicos que promovam os seus medicamentos. Para complementar, reproduzimos esta entrevista com o Prémio Nobel Richard J. Roberts, que diz que os medicamentos que curam não são rentáveis e, portanto, não são desenvolvidos por empresas Farmacêuticas que, em troca, desenvolvem medicamentos codificadores que sejam consumidos de forma serializada.
Isto, diz Roberts, faz também com que alguns medicamentos que poderiam curar uma doença não sejam investigados. E pergunta-se até que ponto é válido e ético que a indústria da Saúde se reja pelos mesmos valores e princípios que o mercado capitalista,
que chega a assemelhar-se ao da máfia.


A investigação pode ser planeada?
Se eu fosse Ministro da Saúde ou o responsável pela Ciência e Tecnologia, iria procurar pessoas entusiastas com projectos interessantes; dar-lhes-ia dinheiro para que não tivessem de fazer outra coisa que não fosse investigar e deixá-los-ia trabalhar dez anos para que nos pudessem surpreender.
Parece uma boa política.
Acredita-se que, para ir muito longe, temos de apoiar a pesquisa básica, mas se quisermos resultados mais imediatos e lucrativos, devemos apostar na aplicada …
E não é assim?
Muitas vezes as descobertas mais rentáveis foram feitas a partir de perguntas muito básicas. Assim nasceu a gigantesca e bilionária indústria de biotecnologia dos EUA, para a qual eu trabalho.
Como nasceu?
A biotecnologia surgiu quando pessoas apaixonadas começaram a perguntar-se se poderiam clonar genes e começaram a estudá-los e a tentar purificá-los.
Uma aventura.
Sim, mas ninguém esperava ficar rico com essas questões. Foi difícil conseguir financiamento para investigar as respostas, até que Nixon lançou a guerra contra o cancro em 1971.
Foi cientificamente produtivo?
Permitiu, com uma enorme quantidade de fundos públicos, muita investigação, como a minha, que não trabalha directamente contra o cancro, mas que foi útil para compreender os mecanismos que permitem a vida.
O que descobriu?
Eu e o Phillip Allen Sharp fomos recompensados pela descoberta de intrões no ADN eucariótico e o mecanismo de gen splicing (manipulação genética).
Para que serviu?
Essa descoberta ajudou a entender como funciona o ADN e, no entanto, tem apenas uma relação indirecta com o cancro.

Que modelo de investigação lhe parece mais eficaz, o norte-americano ou o europeu?
É óbvio que o dos EUA, em que o capital privado é activo, é muito mais eficiente. Tomemos por exemplo o progresso espectacular da indústria informática, em que o dinheiro privado financia a investigação básica e aplicada. Mas quanto à indústria de Saúde… Eu tenho as minhas reservas.
Entendo.
A investigação sobre a Saúde humana não pode depender apenas da sua rentabilidade. O que é bom para os dividendos das empresas nem sempre é bom para as pessoas.

Expliquemo-nos:
A indústria farmacêutica quer servir os mercados de capitais …
Como qualquer outra indústria.
É que não é qualquer outra indústria: nós estamos a falar sobre a nossa Saúde e as nossas vidas e as dos nossos filhos e as de milhões de seres humanos.
Mas se eles são rentáveis investigarão melhor.
Se só pensar em lucros, deixa de se preocupar com servir os seres humanos.
Por exemplo…
Eu verifiquei a forma como, em alguns casos, os investigadores dependentes de fundos privados descobriram medicamentos muito eficazes que teriam acabado completamente com uma doença …
E por que pararam de investigar?
Porque as empresas Farmacêuticas muitas vezes não estão tão interessadas em curar as pessoas como em sacar-lhes dinheiro e, por isso, a investigação, de repente, é desviada para a descoberta de medicamentos que não curam totalmente, mas que tornam crónica a doença e fazem sentir uma melhoria que desaparece quando se deixa de tomar a medicação.
É uma acusação grave.
Mas é habitual que as Farmacêuticas estejam interessadas em linhas de investigação não para curar, mas sim para tornar crónicas as doenças com medicamentos codificadores muito mais rentáveis que os que curam de uma vez por todas. E não tem de fazer mais que seguir a análise financeira da indústria farmacêutica para comprovar o que eu digo.
Há dividendos que matam.
É por isso que lhe dizia que a Saúde não pode ser um mercado nem pode ser vista apenas como um meio para ganhar dinheiro. E, por isso, acho que o modelo europeu misto de capitais públicos e privados dificulta esse tipo de abusos.

Um exemplo de tais abusos?
Deixou de se investigar antibióticos por serem demasiado eficazes e curarem completamente. Como não se têm desenvolvido novos antibióticos, os microorganismos infecciosos tornaram-se resistentes e hoje a tuberculose, que foi derrotada na minha infância, está a surgir novamente e, no ano passado, matou um milhão de pessoas.
Não fala sobre o Terceiro Mundo?
Esse é outro capítulo triste: quase não se investigam as doenças do Terceiro Mundo, porque os medicamentos que as combateriam não seriam rentáveis. Mas eu estou a falar sobre o nosso Primeiro Mundo: o medicamento que cura tudo não é rentável e, portanto, não é investigado.
Os políticos não intervêm?
Não tenho ilusões: no nosso sistema, os políticos são meros funcionários dos grandes capitais, que investem o que for preciso para que os seus boys sejam eleitos e, se não forem, compram os eleitos.
Há de tudo.
Ao capital só interessa multiplicar-se. Quase todos os políticos, e sei do que falo, dependem descaradamente dessas multinacionais Farmacêuticas que financiam as campanhas deles. O resto são palavras…


Fonte: paradigmatrix

Nota: sublinhados meus - ti Zé.

quinta-feira, 19 de outubro de 2017

Erasmus+



Uma delegação composta pelos professores Álvaro Pinto, Luísa Figueiredo e Ricardo Santelmo e pelos alunos Bruna Eiriz, Carlota Koehnen e Hugo Pereira, representou a Escola Secundária/3 Camilo Castelo Branco de Vila Real, entre os dias 23 e 30 de Setembro na Hungria, no âmbito do seu projeto Erasmus+. Os trabalhos decorreram nas cidades de Budapeste, Téglás e Debrecen.
Entre oficinas, provas desportivas e conferências há a salientar a aula preparada pela delegação portuguesa sobre a Rainha Santa Isabel de Portugal e a sua tia-avó, a também Rainha Santa Isabel da Hungria. Esta lição que vagueou entre as Histórias dos dois países, entre as regiões vinícolas do Tokaj e do Douro, entre Puskás e Cristiano Ronaldo, foi ilustrada musicalmente com a análise e interpretação de uma cantiga de amigo de D. Dinis, bem como de outros temas musicais portugueses com destaque para o fado e a marcha de Vila Real.
Partilharam-se experiências pedagógicas, especialmente uma metodologia inovadora, o CLIL, potenciadora do sucesso educativo dos alunos.
Portugal e, em especial, Vila Real foram promovidos e deixaram nos corações húngaros e nos das delegações parceiras o desejo de um reencontro para futuras partilhas.




A mão criminosa da "indústria dos fogos"

Finalmente apareceu alguém, entre os chamados "opinion makers", que disse o que andamos a dizer por aqui há muito tempo:

José Gomes Ferreira diz que as pessoas que ateiam fogo nas florestas sabem "estudar os dias e o vento para arder o máximo possível". Em entrevista no Jornal da Noite, o diretor-adjunto de Informação da SIC, fala na importância de haver uma auditoria para tentar perceber o porquê de haver tantas ignições e saber se há alguém que ganhe com esta vaga de incêndios. (in SIC Notícias, 2017.10.18)

Ver aqui: http://sicnoticias.sapo.pt/opiniao/2017-10-18-Quem-faz-isto-sabe-estudar-os-dias-e-o-vento-para-arder-o-maximo-possivel

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

A morte antecipada da aldeia (real)...

Foto de Adriano Miranda/Público 

Já rios de tinta correram sobre o tema dos incêndios, e, como tal, tudo o que mais se possa acrescentar é chover no molhado. Mas, das várias coisas que lemos, e porque este blogue tem por título o trocadilho entre o "aqui d'el rei" e o "aqui d'aldeia", em que se subentende o "quem nos acode?", se bem que atiremos para a dita "aldeia global", é sempre a "aldeia real" que nos serve de norte, ainda que muitas vezes nesse conceito envolvamos a Tugalândia, país imaginário habitado pelos Tugas.

E, comovendo-nos como Marcelo sobre a tragédia, a pergunta que mais nos perturbou foi feita por alguém sofrido, algures perto de Vouzela, reproduzida numa reportagem da jornalista Natália Faria, de que se fez eco a tribuna neoliberal que dá por nome de "Observador", e que foi esta:  “Depois disto, o que é que nos segura cá?”

Com a devida vénia, transcrevemos o resto:

«Em aldeias há muito ameaçadas pelo despovoamento galopante, os mortos confirmados estavam todos ao pé da porta de Maria de Lurdes, no lugar de Vila Nova. “Sabíamos que as pessoas estavam lá, mas não imagina o que isto foi, com fogo por todo o lado. Ninguém conseguiu lá ir. Às tantas, dei por mim a pensar uma coisa que até me custou: ‘Já devem estar mortos.’ E mortos estavam, coitadinhos.” Quando via as notícias de Pedrógão, Maria de Lurdes, que tem nos vizinhos a família que, solteira e sem filhos, nunca teve, costumava benzer-se: “Nós aqui estamos no céu.” Afinal, não. “É um inferno como os outros. Depois disto, o que é que nos segura cá?”»

Sim, é isso. O que é que ainda nos segura cá? Remam contra a maré, últimos moicanos resistentes, cercados e avassalados pela "civilização" global, num tempo e lugar onde se tornou contraproducente produzir o quer que seja, pois que a concorrência da agricultura industrializada de porcarias feitas à pressão, desde batatas transgénicas aos pitos de aviário cheios de nitrofuranos e hormonas que decerto têm amaricado as sociedades urbanóides, e, por fim, isto!!

E agora esperem só pelo que vem por aí... Quando estes últimos resistentes tiverem desistido, a vegetar num lar qualquer, os filhos e netos, perdidos algures na cidade ou na estranja, vão em breve receber o fatídico telefonema dos agentes dos oligopólios que vão começar a comprar a terra queimada por tuta e meia. Segue-se o emparcelamento, virão potentes máquinas que vão escalavrar todos os solos milenares, e, seguindo projectos bem delineados em gabinetes de silvicultores altamente especializados e aconselhados por peritos em incêndios florestais, começarão sistematicamente o plantio da nova floresta neoliberal, a mata que não arde, altamente produtiva, com espécies de crescimento rápido, para pasta de papel e mobiliário do Ikea, tudo controlado por computador a partir da Suécia, ou da China, ou de outro ponto qualquer da aldeia global... - Claro que terão por cá os seus agentes locais, como aquele sr. ministro que se queixava, há muitos anos, de estar a perder dinheiro no governo (era um alto quadro da portucel), mas que de lá o não deixaram sair enquanto não produziu, durante mais de 10 anos, uma série de legislação para acobertar a eucaliptação da Tugalândia.... Ou o outro das negociatas dos chaparros, que decerto se perfila para ser ministro de agricultura e florestas num futuro governo pós-geringonça... para além da sua querida líder, que igualmente favoreceu a eucaliptação na sua passagem também pelo ministério da agricultura... Por isso, as suas moções de censura são lágrimas de crocodilos ávidos de voltar aos postos de controlo das centrais de distribuição de apoios a esses grandes oligopólios que os patrocinam e de que são agentes e testas de ferro.

Sim, a morte da aldeia real é também isto: a morte de um velho mundo moribundo patente nos olhos do homem da fotografia captada pelo repórter urbano. Espécie mais em vias de extinção que o desaparecido lince da Malcata. Com ele morre um passado milenar, neolítico, de gente com valor e valores agarrada ao seu rincão sagrado. Vem um novo mundo de criaturas sem alma e sem rosto, dominando extensos feudos decerto guardados por guardas armados, talvez netos destes homens, que se irão tornar servos deste miserável sistema que suspeito por detrás desta política de terra queimada. Sim, essa nova floresta capitalista não vai arder, não. Vigiada permanentemente por satélite e por drones e patrulhada por guardas privados, ninguém ouse pôr um pé nela. E, nesse dia, os pirómanos receberão o seu emprego, ou na patrulha de vigilância, ou nas equipas de abate ou serração.

Preparem-se. Vem aí a nova floresta neoliberal, asséptica,  a mata que não arde, altamente produtiva. O pinhal "nacional" desde D. Dinis, já era, tal como o pinhal do ti António, do ti Manel, ou do Ti Zé da aldeia real... Acabou. É preciso "modernizar a nossa floresta", vai ser o mote. E o papalvo come e aplaude.


segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Como vai o grande negócio de Verão e... de Outono!

Dizem que ontem foi "o pior dia do ano" da "época dos incêndios-2017" - ver aqui:

http://observador.pt/2017/10/16/tudo-o-que-se-sabe-sobre-o-pior-dia-de-incendios-do-ano/

Já o dissemos e escrevemos diversas vezes: os incêndios florestais (que agora alastram também para casas e povoados), é o grande negócio de Verão - ver aqui: https://aquidaldeia.blogspot.pt/2016/08/ainda-sobre-os-fogos-de-verao-e-porque.html

E, como este ano o verão se prolongou, continua o negócio, já o Outono vai alto. Digamos que foi um "bom ano" para os negociantes do sector.

Cenários dantescos, milhares de hectares de terra queimada, casas, carros, pessoas e animais mortos, carbonizados. De vez em quando apanha-se um pirómano que, uma vez identificado, é posto em liberdade, quando muito a aguardar julgamento, enquanto trata (ou alguém por ele) do devido certificado psiquiátrico.

Décadas e décadas de um país (será?) a arder... E, como disse o sr. primeiro ministro, habituem-se, porque isto vai continuar. Pois, nem Sirespes, nem Sirespas, tudo pago chorudamente para coisa nenhuma. Sim, "isso" foi apenas mais um dos muitos e chorudos negócios que gravitam em torno dos "fogos"... Claro que isto nunca acabará, porque num sistema iníquo que é o do capitalismo selvagem, a palavra central de tudo isto é: N E G Ó C I O !!!... entenderam?? dito em inglês: B U S I N E S S !!!- já que é dos mundos anglo-saxónicos, com o expoente máximo nos EUA's, que tal sistema emana.

Assim, do mesmo modo que inventaram a informática, logo a seguir inventaram os vírus informáticos... e, os mesmos que inventaram os vírus informáticos, logo a seguir inventaram os anti-vírus informáticos... E em relação às doenças, quantas não terão sido propagadas para depois se venderem os "remédios"? Tal como me lembra de ouvir aos velhos que, noutros tempos, passavam aviões a deitar do ar escaravelhos da batata, para depois se vender o DDT...

E o problema está mesmo nos DDT's, agora com outro significado, como bem o sabe um famoso banqueiro, agora em palpos de aranha e mó de baixo, valha-nos o sistema judicial.

Pelo que, esperemos, logo que o dito sistema judicial consiga ganhar a guerra contra o sistema corrupto-democrático que dá cobertura ao (aliás, é eleito pelo) sistema corruptor-económico (=capitalismo), resta-nos a esperança de que se comece a esmiuçar o que está por detrás deste grande negócio de verão (e outono). Dos pulhíticos não há nada a esperar. São apenas os que compram os submarinos e os "meios aéreos" que os agentes do capitalismo lhes metem pelos olhos a dentro, em luzidos cardápios, para os adquirirem com o nosso dinheiro. - Estão a ver? tantos fogos... quantos aviõezinhos têm? e helicópteros? pois, como se vê, não chegam... têm que alugar mais... ou comprar mais... Quando é que é a reunião com o/a sr(ª). ministro? - ok, depois levamos o catálogo com os novos modelos... Ah, e também podemos conversar sobre o novo dispositivo de detecção remota de fogos - último modelo - e substituir o sistema obsoleto do Siresp...

- É tudo uma questão de se estabelecer a correlação entre fogos e vendas e certamente as "escutas" confirmariam as aquisições, o quem vende a quem, e o quem manda fazer o "trabalhinho" ao pirómano coitadinho que é maluquinho...

Por alguma razão não são promulgadas leis draconianas, tipo pena máxima para pirómanos, a menos que "cantassem" quem são os (co)mandantes... E por alguma razão não se investe numa efectiva política de prevenção, em vez de se alimentar a indústria do apaga-fogos.

Bem, decerto haverá ainda uma outra explicação, a qual vamos ter de esperar para ver. Ou seja, veremos se agora não se vai suceder um emparcelamento da propriedade rústica nas mãos de grandes oligopólios florestais e agrícolas (inscrevendo-se esta política de terra queimada na eliminação do que resta do tradicional minifúndio multissecular) e, aí sim, os novos senhores tratarão de cuidar bem das sua novas matas celulósicas ou afins, talvez até com guardas armados a patrulhar as novas florestas privadas (nova forma de emprego para os seus antigos pirómanos)...

É-me cada vez mais estranho este mundo em que vivemos.
Decididamente, o meu reino não é deste (i)mundo.

sábado, 30 de setembro de 2017

Romanices...

Enquanto não se inventa a Máquina do Tempo, achei que um pouco de História não vos fazia mal. Por isso, hoje deixo-vos com esta estória, ocorrida algures na Hispânia do século II a.C.:


Conta-se que em 139 a.C., Roma envia para a Hispânia o seu general Servílio Cipião com o objectivo de acabar com a guerrilha de Viriato que durava há vários anos, com graves transtornos para os invasores.

As coisas parece que continuavam a correr mal aos romanos e o caudilho lusitano, tirando partido disso, terá enviado três emissários da sua confiança para tentarem obter uma trégua vantajosa.

O negociador romano, Marco Popílio Lenas, decerto seguindo ordens de Cipião, achou que seria mais cómodo subornar os emissários para eliminarem o chefe lusitano, e assim ficava resolvido o problema. Acenaram-lhes com mundos e fundos e o perdão de Roma, caso fizessem o "trabalhinho" bem feito, e o jogo de sedução funcionou em pleno.

Enquanto Viriato dormia, conhecendo o "santo e senha", os renegados conseguiram introduzir-se na sua tenda, e crivaram-no de punhaladas.

Depois correram para o campo adversário (aliás, para o seu novo campo), para cobrarem o ouro prometido. Mas consta que tiveram azar... Os romanos já tinham três patíbulos prontos, com as cordas pendentes, à sua espera.

E à pergunta "- E então a nossa paga?", os  mandantes ter-lhe-ão respondido: "Esta é a moeda com que Roma paga aos traidores!" - e apontaram-lhe as forcas.

Bons tempos...

- Ah, e já agora, os nomes dos traidores (porque é bom que nunca se lhes esqueça o nome): Audax, Ditalco e Minuro...

terça-feira, 5 de setembro de 2017

Parábola da formiga desmotivada


Esta já é velha, mas como ainda cá não a tínhamos postado, aqui fica: 

Você conhece a parábola da demissão da formiga desmotivada?  

“Todos os dias, uma formiga chegava cedinho ao escritório e pegava duro no trabalho. A formiga era produtiva e feliz.
O gerente marimbondo estranhou a formiga trabalhar sem supervisão.
Se ela era produtiva sem supervisão, seria ainda mais se fosse supervisionada. E colocou uma barata, que preparava belíssimos relatórios e tinha muita experiência, como supervisora.
A primeira preocupação da barata foi a de padronizar o horário de entrada e saída da formiga.
Logo, a barata precisou de uma secretária para ajudar a preparar os relatórios e contratou também uma aranha para organizar os arquivos e controlar as ligações telefônicas.
O marimbondo ficou encantado com os relatórios da barata e pediu também gráficos com indicadores e análise das tendências que eram mostradas em reuniões.
A barata, então, contratou uma mosca, e comprou um computador com impressora colorida.
Logo, a formiga produtiva e feliz, começou a se lamentar de toda aquela movimentação de papéis e reuniões!
O marimbondo concluiu que era o momento de criar a função de gestor para a área onde a formiga produtiva e feliz, trabalhava. O cargo foi dado a uma cigarra, que mandou colocar carpete no seu escritório e comprar uma cadeira especial…
A nova gestora cigarra logo precisou de um computador e de uma assistente a pulga (sua assistente na empresa anterior) para ajudá-la a preparar um plano estratégico de melhorias e um controle do orçamento para a área onde trabalhava a formiga, que já não cantarolava mais e cada dia se tornava mais chateada.
A cigarra, então, convenceu o gerente marimbondo, que era preciso fazer uma pesquisa de clima. Mas, o marimbondo, ao rever as finanças, se deu conta de que a unidade na qual a formiga trabalhava já não rendia como antes e contratou a coruja, uma prestigiada consultora, muito famosa, para que fizesse um diagnóstico da situação.
A coruja permaneceu três meses nos escritórios e emitiu um volumoso relatório, com vários volumes que concluía: Há muita gente nesta empresa!
E adivinha quem o marimbondo mandou demitir?
A formiga, claro, porque ela andava muito desmotivada e aborrecida.”
Autor desconhecido
- NOTA: esta parábola ilustra bem o funcionamento burocrático do sistema neoliberal - os chamados "quadros de excedentes" são sempre para o mexilhão... ou para a formiga, neste caso... - Valha-nos a "geringonça", pois que se deixou de falar tanto em "disponíveis" e "excedentários", pois que se tivéssemos o Coelhote, em largos Passos já estava a função pública toda despedida, e as formigas todas da privada (menos os boys, claro, que são as baratas, aranhas, corujas, mochos, bufos etc. do "sistema"...)

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A roubalheira telefónica - e não só!

Diz-se por aí que:

Dantes só havia Números de Telefone da PT e alguns 800 (grátis) e 808 (preço de chamada local); aí chegaram à conclusão que o Povo Português estava a ser Pouco Roubado e, com o Aval Governamental, implementaram os 707 que até a Assistência em Viagem das Companhias de Seguros, e não só, e os Serviços de Finanças adoptaram com as seguintes vantagens para a Operadora que para os Utentes é Só Prejuízo: Experimentem chamar a Assistência em Viagem, situação na qual NINGUÉM TEM TELEFONE FIXO e reparem no próximo Extracto da Conta do Telemóvel... Mesmo do Telefone Fixo falem para as Finanças ou para quem quer use esse indicativo 707 ou similar e depois faça o mesmo em relação ao Extracto da Conta do Telefone . Vai ràpidamente chegar à conclusão que o Benefício não é para Si mas para quem o Estado Protege Contra Si...
IMPUNEMENTE!!!

 
CUSTAM POR MINUTO 5€ EM TELEFONE FIXO E 18€ EM TELEMÓVEL, TUDO POR MINUTO

Indicativo 707 ... vão aumentando os serviços que o utilizam...

ATÉ AS FINANÇAS...


- Conclusão: são sinais dos tempos e do tal de Neoliberalismo galopante - como diz o grande arauto deste sistema cá pela Tugalândia, o Abominável César das Neves, "não há almoços grátis"....

domingo, 20 de agosto de 2017

Islamices e... tomates (canadianos)!

Pelos vistos, para as bandas do Canadá, há quem não embarque nas exigências dos INVASORES islâmicos, e lhes responda à letra, marimbando nessa conversa mole do "politicamente correcto", o cancro ideológico que fragilizou o Ocidente, em especial esta europa paneleirona, cada vez mais de cócoras, mais ainda que os ditos cujos lá nas mesquitas deles...

Ora veja-se aqui um valente par de tomates canadianos, que mão amiga nos fez chegar:


*Presidente da Câmara, Canadiano, recusa abolir a carne de porco do menu das cantinas das escolas*   e EXPLICA PORQUÊ:

Os pais de alunos muçulmanos exigiram a abolição da carne de porco do menu de todas as escolas do Distrito de Montreal.
O Presidente da Câmara do subúrbio de Dorval em Montreal recusou e o porta-voz da Câmara mandou uma carta aos pais explicando o porquê.


Eis o teor da carta:

"Os mulçumanos têm que perceber que devem se adaptar ao Canadá e ao Quebec: aos costumes, as tradições e ao modo de vida locais porque foi para aqui que eles escolheram imigrar.

Têm que entender que se devem integrar e aprender a viver no Quebec.

Muçulmanos imigrantes têm que entender que cabe a eles mudar o seu modo de vida; não os Canadianos que tão generosamente os acolheram.

Têm que perceber que os Canadianos não são nem racistas nem xenófobos. Que aceitaram muitos imigrantes antes dos muçulmanos (já o contrário não é verdadeiro, pois estados muçulmanos não aceitam imigrantes não-muçulmanos).

Que não mais do que outras nações, os Canadianos não estão dispostos a renunciar a sua identidade, a sua cultura.

E se o Canadá é um país hospitaleiro, não é o Presidente da Câmara que bem recebe os estrangeiros mas os cidadãos quebenquenses-canadianos como um todo.

E por último, os imigrantes muçulmanos têm que perceber que no Canadá (Quebec) - devido as raízes judaico-cristã, árvores de natal, igrejas e festivais religiosos - a sua relegião deve permanecer no fórum privado. A municipalidade de Dorval procedeu acertadamente
ao recusar quaisquer concessões ao Islão e a Sharia.

Aos *muçulmanos que discordam* do secularismo e *não se sentem desejados no Canadá*, tenho a dizer que *há 57 lindos países muçulmanos* no mundo, na sua maioria *pouco populosos*  e prontos a recebê-los com braços abertos _à la halal_ de acordo com a Sharia.

Se *você emigrou do seu país para o Canadá* e *não para* outro *país muçulmano* é *porque concluiu que a vida é melhor no Canadá do que em qualquer outro país*.

*Pergunte a si próprio*, uma só vez, *porquê é melhor aqui no Canadá do que de onde vim?*  "Uma cantina onde se serve carne de porco" é parte da resposta.

*****************

*EXEMPLAR*.

Partilhe para *promover  TOLERÂNCIA* pelo mundo. É a atitude que todos países deveriam adoptar.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

E porque estamos em tempo de "vacances" (com milhares de turistas - dizem - a chegar-nos de todo o lado)...  tomem lá. aqui têm:

Turismo rural 


Trata-se de um desporto nacional, a que antes se chamava:  "ir à terra".
A diferença é que se fores à tua terra, vais de borla e, se fizeres turismo rural, vais a uma terra que não é a tua e pagas uma pipa de massa.
Para fazer turismo rural não serve qualquer terra. Tem de ser uma terra "com encanto".
E o que é uma terra "com encanto"?
Obviamente, é uma terra que está num guia de terras "com encanto"…  Está-se mesmo a ver:  A estas terras chega-se, normalmente, por uma estrada  municipal, "com encanto", que é uma estrada com tantos buracos e tantas curvas que quando chegas à dita terra estás mortinho por sair do carro.
E, quando entras no café, tentas integrar-te com os vizinhos.
“– Bom dia, compadres! O que é que é típico daqui?...”
E o gajo do café pensa: "– Aqui, o típico é que venham os artolas da cidade ao  fim-de-semana gastar duzentos euros…".
A seguir, ficas instalado numa casa rural ou casa "com encanto", que é uma casa decorada com muitos vasinhos e réstias de alhos penduradas do tecto, que não tem televisão, nem rádio, nem microondas.  Em contrapartida, tem uns cabrões de uns mosquitos que, à noite, fazem mais barulho que uma das antigas bicicletas-a-motor “Famel Zundapp”.
Depois apercebes-te que os da terra vivem numas casas que não têm encanto nenhum, mas têm jacuzzi, parabólica, internet e video-porteiro. A tua casa não tem video-porteiro, mas tem uma chave que pesa quase meio quilo.
Outra vantagem de fazer turismo rural é que podes escolher entre uma casa vazia ou ir viver com os donos da casa.
Fantástico!!!   Vais de férias e, além da tua, ainda tens que aguentar uma família postiça:  Que à noite queres ver o filme, eles os documentários e tu perguntas-te:  "Quem é que manda mais? Eu, que paguei 200 euros ou este senhor que vive aqui?" Ganha ele, que tem um cacete.
Ainda por cima, dizem-te que tens "a possibilidade de te integrares nos trabalhos do campo". O que quer dizer que te acordam às cinco da manhã para ordenhar uma vaca. Não te lixa?!...
É como ires à bomba da gasolina e teres de pôr tu a gasolina ou como ires ao McDonalds e teres tu que arrumar o tabuleiro. Ou seja:  o normal!...
Então, levantas-te às cinco para ordenhar as vacas. E digo eu:  “Porque raio é que é preciso ordenhar as vacas tão cedo? O leite está lá!... Não se podem ordenhar depois do pequeno-almoço?  Eu acho que isto é só para chatear, porque a vaca deve ficar muita contente por a acordarem às cinco da  manhã para um estranho lhe vir mexer nas mamas.”.
A vaca olha para ti como se dissesse: "Ouve lá, ò pacóvio, se queres leite vai ao frigorífico e abre um pacote!"
É que é mesmo só para chatear!!!
Mas o "encanto" definitivo são "as actividades ao ar livre".
Como quando te põem a fazer “a caminhada”, que é aquilo a que normalmente se chama andar, e consiste, exactamente, em por um pé em frente ao outro até não poderes mais, enquanto os da terra vão num jipe com ar condicionado! 
Mas tu, feliz da vida, vais pelo campo, atordoado, tornas-te bucólico e tudo te parece impressionante.
Vês uma vaca e dizes:  "– Ummmmm, que cheirinho a campo!"…
A campo não, a bosta!!!  Mas, isso sim, é a bosta "com encanto".
E tudo, seja o que for, te sabe maravilhosamente:   na mesa pespegam-te dois ovos estrelados com chouriço e tu na cidade não comes estes ovos, nem estes chouriços.
E perguntas ao empregado:  “– Este chouriço é da matança?
E o gajo responde:   “– Quase, porque o gajo do camião da Izidoro ia morrendo ali na curva.”.
De repente, ouves umas badaladas e dizes:   “– Ah! Que paz! Não há nada como o som de um sino!...
E o gajo do café diz-te:  “– É gravado. Não vê o altifalante no campanário?
Nesse momento, perguntas-te se os ruídos das galinhas e dos grilos não estarão num CD: "RuralMix2009", "Os 101 Maiores Êxitos Campestres".  A única coisa de que tens a certeza é que os cabrões dos mosquitos são verdadeiros.  Pareces um “Ferrero Rocher” com varicela!!!
Eu acho que, de segunda a sexta, as pessoas destas terras vivem como toda a gente, mas, ao fim-de-semana, espalham pela estrada uns tipos mascarados de pastores e, quando vêem que se aproxima um carro, avisam os da terra pelo telemóvel: "– Hei, vêm aí os do turismo rural!".  E mudam o cartaz de "Videoclube" pelo de "Tasca", soltam uns cães pelas ruas e sentam à entrada na terra dois avôzinhos a fazer sapatos, que depois tu compras uns que te saem mais caros que uns “Nike”.
Enfim, acho que uma montagem tão grande como esta não pode ser obra de pessoas isoladas.
Tenho a certeza de estão implicadas as autoridades.
Imagino o Presidente da Câmara:
“– Queridos conterrâneos:  este Verão, para aumentar o turismo, vamos importar mais mosquitos do Amazonas, pois que no ano passado tiveram imenso êxito. E quero ver toda a gente com boina, nada de bonés de pala da Marlboro!  E façam o favor de pintar o espaço entre as sobrancelhas, que assim não parecem da província!   E as avós: nada de topless na ribeira, que espantam os mosquitos!...  E só mais uma coisa:  Este ano não é preciso ninguém fazer de maluquinho da terra, que, com os que vêm de fora, já chega!