segunda-feira, 13 de novembro de 2017

PanteãoGate - um coro de virgens púdicas actua agora na cripta central

A brincar a brincar, o Sr. Ferreira Fernandes, em artigo no DN (ver em baixo) pôs o dedo na Frida (que não Kalo). 

- Na verdade, na lógica capitalista, tudo é business! 

Os monumentos? são para se "fruir"... tudo tem de se fruir, carago!, sobretudo se é malta endinheirada, que quer ter uma... "experiência diferente"! - jantares de gala em sítios chiquérrimos? - isso já é banal para eles, gente que já experimentou de tudo, precisamente porque tem muita massa. 

O que era preciso assim algo diferente (para algo de bom, há muito que existe o "Ferraro Roché") - o que era preciso, agora, era mesmo algo... de arrepiar. Só faltou mesmo, para completar o número, uns "fantasmas" embrulhados em lençóis, a deambular entre os sepulcros, e umas gravações com uns gritos lancinantes e o ranger de umas funéreas tumbas.... 

E foi pena não ter sido pelo Halloween, senão punham-se umas carrancas de abóbora com velas dentro sobre os túmulos do Camões e afins (nesses não há problema, porque até estão vazios). - Desde que esta gente pague, e bem, porque não?? Já que o Estado respeitável e omnipresente (em desconstrução acelerada por parte desses mesmos devotos dos "empreendedorismos" e das "startups") está cada vez mais sem cheta, porque não aderir a estas brilhantes e "empreendedoras" soluções, dentro do espírito do "Estado mínimo", neoliberal, imaginativo, criativo, sensitivo, lucrativo? 

- Há muito que se transformam velhos mosteiros e castelos em pousadas e afins? Pior era se abrissem um cabaré no Panteão (se calhar era esse o caminho, se não houvesse este burburinho - até rima!). Estão muito indignados? Pois esperem só pelo novo "Instituto do Património, S.A." que aí vem... - se fôr ainda com a "geringonça", teremos uma versão soft; se fôr com uma nova coligação tipo PaF, então será melhor ainda!...

Ora tomem lá:

Do Panteão pobre a uma Startup supermilionária
Agora, o Panteão. Jantou-se sob a cúpula. Culpa deste governo. Tudo dentro dos regulamentos de 2014. Culpa do governo anterior... Conversetas! Ora as culpas são outras. 1) Janta-se nos monumentos por falta de dinheiro. E 2) Ao alugar claustros e salões nobres não sabemos transformar a pobreza num orgulho. Por exemplo, para os da Web Summit, no Panteão, dizer-lhes quem somos. Ah, querem jantar com as nossas falecidas glórias? Então, além do cheque, ofereçam a vossa atenção! Não temos cá o Bulhão Pato (o melhor deste é servido em amêijoas nas tascas da cidade), mas temos Aquilino, o da cripta ao lado, que em A Casa Grande de Romarigãescozinhava a truta de dez maneiras. Ao menu chamar-se-ia Cartilha Maternal(homenagem a outro hóspede, João de Deus) e seria só peixe. Para lhes dizer, nós é mar - ao jantar citar-se-ia mil vezes Sophia. E, já agora, ó campeões da imaginação, o Eusébio está cá a representar mais que ele: foi colega de Coluna, um negro que mandava numa equipa de brancos quando isso ainda não existia. Silêncio, anunciava-se Amália e ouvia-se Max a cantar a Rosinha dos Limões. "Mas ela não era uma fadista?!", diria um geek. Cala-te e ouve (e agora era Amália a cantar): o fado Marujo, igualzinho... Lição para os da Web Summit: as invenções entrelaçam-se. Tanta coisa temos para vos ensinar enquanto mastigam... Investíamos as receitas dos jantares numa startup milionária: o Museu dos Descobrimentos. E com este libertávamos da pobreza o Panteão