segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

Achegas para a impugnação da canonização do S. Belmiro...

Más línguas!...

Agora que tudo concorria para a canonização de S. Belmiro, já em fase de beatificação, incensado como o maior empresário que a Tugalândia jamais conheceu, um "self made man", um homem que subiu na vida a pulso, com um rasgo e visão inigualáveis, gestor eficaz, trabalhador incansável, que se levantava às 5h da manhã para trabalhar (bem, descontando a horita do ginásio matinal), enfim, com tantas qualidades que tudo apontava para uma subida aos altares mais rápida do que os pastorinhos de Fátima...

Eis então senão quando, e vêm agora para aqui uns desmancha-prazeres a lixar isto tudo - senão vejam:


«Ontem, no telejornal, esperei que a RTP desse um cheirinho sobre o "salto" de Belmiro de técnico-ativista para acionista rico. 
Nada, nem pó, nem sequer uma referência ao (aos?) processos que lhe moveu a viúva do banqueiro Pinto Magalhães, etc, etc, etc.
Deixo aqui um texto de um antigo deputado e bancário, para lerem com espírito aberto e buscarem mais para aferir, confirmar, complementar.

"Quando, em 14 de Março de 1975, o governo de Vasco Gonçalves nacionalizou a banca com o apoio de todos os partidos que nele participavam (PS, PPD e PCP), todo o património dos bancos passou a propriedade pública. O Banco Pinto de Magalhães (BPM) detinha a SONAE, a única produtora de termolaminados, material muito usado na indústria de móveis e como revestimento na construção civil. Dada a sua posição monopolista, a SONAE constituía a verdadeira tesouraria do BPM, pois as encomendas eram pagas a pronto e, por vezes, entregues 60, 90 e até 180 dias depois. Belmiro de Azevedo trabalhava lá como agente técnico (agora engenheiro técnico) e, nessa altura, vogava nas águas da UDP. Em plenário, pôs os trabalhadores em greve com a reclamação de a propriedade da empresa reverter a favor destes. A União dos Sindicatos do Porto e a Comissão Sindical do BPM (ainda não havia CTs na banca) procuraram intervir junto dos trabalhadores alertando-os para a situação política delicada e para a necessidade de se garantir o fornecimento dos termolaminados às actividades produtoras. Eram recebidas por Belmiro que se intitulava “chefe da comissão de trabalhadores”, mas a greve só parou mais de uma semana depois quando o governo tomou a decisão de distribuir as acções da SONAE aos trabalhadores proporcionalmente à antiguidade de cada um.
É fácil imaginar o panorama. A bolsa estava encerrada e o pessoal da SONAE detinha uns papéis que, de tão feios, não serviam sequer para forrar as paredes de casa… Meses depois, aparece um salvador na figura do chefe da CT que se dispõe a trocar por dinheiro aqueles horrorosos papéis.
Assim se torna Belmiro de Azevedo dono da SONAE. E leva a mesma técnica de tesouraria para a rede de supermercados Continente depois criada onde recebe a pronto e paga a 90, 120 e 180 dias…
Há meia dúzia de anos, no edifício da Alfândega do Porto, tive oportunidade de intervir num daqueles debates promovidos pelo Rui Rio com antigos primeiros-ministros e fiz este relato. Vasco Gonçalves não tinha ideia desta decisão do seu governo, mas não a refutou, claro. Com o salão pleno de gente e de jornalistas, nenhum órgão da comunicação social noticiou a minha intervenção.
Este relato foi-me feito por colegas do então BPM entre eles um membro da comissão sindical (Manuel Pires Duque) que por várias vezes se deslocou na altura à SONAE para falar aos trabalhadores. Enviei-o para os jornais e, salvo o já extinto “Tal & Qual”, nenhum o publicou… 
Gaspar Martins, bancário reformado, ex-deputado"»